
O jornalismo contemporâneo nasceu da Revolução Francesa (1789), do Iluminismo (Francês, Britânico, Alemão e Norte-Americano), da modernidade, das novas tecnologias (inclusive as que nasceram antes, como o tipógrafo de Gutemberg que nasceu na Renascença) e do desejo imenso das pessoas em se emancipar cultural e intelectualmente.
Foi o amálgama de tudo isso que culminou no reconhecimento do DIREITO À INFORMAÇÃO, abraçado pela ONU desde a sua criação. Se manter informado e bem informado é hoje um direito humano, mas se manter adequadamente informado em uma era tecnologicamente tão disruptiva e permeada por bolhas e analfabetismo midiático se torna cada vez mais difícil.
Obviamente, este processo atinge frontalmente os valores democráticos das sociedades atuais, erodindo a confiança nas instituições, nas Universidades, na Ciência e claro, na própria democracia. O processo está em curso no mundo inteiro, e em maior ou menor grau, as Democracias estão sob ataque.
Mas, se as redes sociais são claramente culpadas por parte deste processo social mundial… Qual seria o papel/ responsabilidade do jornalismo clássico, aquele da mídia tradicional? Neste artigo (que integra a minha pesquisa junto ao Centro de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra) publicado agora pela Revista Parajás, e apresentado no ano passado em Conferência na PUC/RS junto ao REFAT (Rede Internacional de Estudos de Autoritarismos e Fascismos), proponho refazer a jornada jornalística que nos trouxe aqui.
Tento demonstrar como o jornalismo tentando se equilibrar no dever de ouvir o outro lado sempre, acabou na era das redes sociais, TRATANDO como IGUAIS os DESIGUAIS, e colocando em pé de igualdade para debater, PESQUISADORES X CHARLATÃES, CIENTISTAS X ENGANADORES, CONCLUSÕES X OPINIÕES.
Este problema tem nome dentro das ciências sociais e se chama FALSA SIMETRIA. Ele começou no debate sobre o TABAGISMO, quando a indústria do Tabaco financiou debates completamente inidôneos entre cientistas que demonstravam os males do fumo versus picaretas que usavam suas falsas credenciais para dizer o contrário. Nas décadas seguintes, a indústria dos combustíveis fósseis utilizou a mesma estratégia para praticar o negacionismo climático e ambiental.
E hoje, a prática se disseminou a ponto de qualquer um, influencer, blogueiro, político ou o’ tio do pavê’, opinarem sobre tudo e serem ouvidos com a mesma ênfase que opiniões verdadeiramente abalizadas. No afã de ser “democrática” e conceder espaço igual, a mídia tradicional acabou décadas atrás fortalecendo uma lógica perversa de desinformação como matéria prima para um mercado que rentabiliza com mentiras e ódio.
* Alexandre Gossn é Pesquisador & Doutorando em Ciências Sociais junto ao Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra, com ênfase em filosofia política e autoritarismos contemporâneos, escritor, Mestre em Direito e Advogado.
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