Mercado de criptomoedas

A era do capitalismo tecnológico

*Por Joan Cwaik – Autor. Especialista em tecnologias emergentes.

A era do capitalismo tecnológico
Mulher passa pela entrada de uma casa de câmbio de criptomoedas em Istambul, Turquia (Crédito: Chris McGrath/ Getty Images)

Na década de 1970, a era do capitalismo industrial deu origem ao capitalismo financeiro deste lado do Muro de Berlim. O papel principal passou gradualmente das fábricas para os bancos. Estamos diante de uma nova era do capitalismo, o tecnológico? Dois eventos recentes podem nos dar uma pista.

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Sem dúvida, um dos eventos tecnológicos das últimas semanas é a correção retumbante do mercado de criptomoedas, quase – embora ainda não – comparável ao inverno de 2018, quando o valor de mercado do Bitcoin caiu 70% após atingir um recorde histórico. Nas últimas semanas, as principais criptomoedas sofreram quedas de 50 a 80% em sua valorização em relação aos seus máximos, e a reação continua a ser vista no mercado. Mas talvez o caso mais marcante seja o do ecossistema Terra e seu promissor token Luna, que passou de 120 dólares para zero em poucas semanas depois que a UST perdeu a paridade com o dólar.

Tudo isso ocorre em um contexto de incerteza energética, inflação global e queda dos principais índices financeiros mundiais. Se experimentamos alguma coisa no último século, é que os seres humanos têm uma capacidade crescente de gerar riqueza. Como Johan Norberg coloca em seu livro “Grandes Avanços da Humanidade”, a humanidade nunca gerou tanta riqueza, bem-estar, igualdade e desenvolvimento humano na história como nos últimos duzentos anos. E as criptomoedas também são um reflexo disso. Talvez o mais recente.

Progressivamente, essa capacidade de gerar riqueza muda de força física ou recursos materiais para elementos intangíveis e intelectuais. A verdadeira grande transformação da realidade no século 21 está no cérebro humano, e isso nos capacita como nunca antes na história.

No entanto, e ao mesmo tempo, as grandes transformações produzem períodos de incerteza diretamente proporcionais em termos de impacto e alcance. A mudanças mais profundas, mais e mais incerteza, maior instabilidade social e até econômica. Como estamos vendo nos últimos meses.

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O segundo fato tecnológico altamente relevante dessas semanas é o romance gerado em torno da suposta compra do Twitter por Elon Musk. Depois que o CEO da Tesla disse que estava suspendendo a compra de US$ 44 bilhões da rede social, as ações da empresa caíram acentuadamente. De fato, as ações do próprio Twitter subiram quase 5% em um dia quando a compra foi anunciada. Mas se formos um pouco mais para trás, em janeiro deste ano, a empresa Signal Advance Inc. aumentou o valor de suas ações no mercado em 526% devido a duas palavras ‘twittadas’ por Musk: “Use Signal”. Mesmo quando ele nem se referia à empresa em questão, mas a um serviço de correio.

Esses eventos, que até beiram o cômico, permitem destacar o crescente poder dos indivíduos –ou alguns indivíduos– por sua influência no capitalismo do século XXI. As redes sociais e a crise das instituições intermediárias – entre elas, a mídia – conferem grande poder a algo aparentemente tão efêmero quanto o número de seguidores de alguém.

Se combinarmos esse aspecto (o poder dos indivíduos) com o anterior (o capitalismo baseado em elementos intangíveis), observaremos uma das grandes mutações do modelo econômico de nosso tempo. Onde um tweet lançado de um determinado telefone sem muita previsão pode ganhar (ou perder) milhões de dólares no mercado.

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Este mundo que habitamos apresenta, seguindo Norberg, grandes vantagens e oportunidades, mas também riscos e momentos de incerteza. Entender esse novo ciclo será fundamental para tomar melhores decisões.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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