O mercado financeiro da Argentina deve sofrer dias de apreensão, principalmente, no câmbio após a eleição de Javier Milei para a presidência. Durante a campanha eleitoral a moeda argentina teve uma perda expressiva de valor durante a disputa, e o mercado aguarda a confirmação das propostas ousadas do economista ultraliberal, que se for levadas a sério podem agravar uma situação já muito difícil.
A desvalorização do peso argentino veio acompanhada de outros problemas macroeconômicos, inflação altíssima (mais de 140% em 12 meses), falta de reservas em dólar, endividamento e aumento da pobreza.
E o turismo?
Apesar de tudo isso, criou um fenômeno turístico: uma legião de turistas brasileiros visitando o país vizinho.
Se o peso argentino vale menos, o real fica mais poderoso. O dólar blue, principal cotação paralela da moeda americana, subiu mais de 207% em 12 meses. Da casa dos 370 pesos em janeiro, chegou a 1 mil pesos pouco antes das eleições.
“O câmbio nesse patamar possibilita um upgrade nos serviços, com excelentes hotéis, restaurantes, vinhos e passeios a custos abaixo do que normalmente teriam. Isso já aconteceu outras vezes e sempre que ocorre, vemos a demanda aumentar”, disse ao portal G1, Marina Figueiredo, presidente executiva da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa).
O cenário vantajoso de conversão de moeda consolidou Buenos Aires como um dos principais destinos turísticos dos brasileiros em 2023, segundo a associação. A incerteza causada pelas propostas de Milei geram muitas dúvidas em investidores e podem ampliar as perdas do peso argentino, em especial no início do governo.
Medidas radicais
As medidas radicais propostas pelo novo presidente, como dolarizar a economia e extinguir o Banco Central, têm riscos claros para a política econômica e precisam de ampla adesão do Congresso. No entanto, o resultado as urnas não demonstrou que Milei terá.
“Milei confirma que pretende seguir com a dolarização, mas não há nada concreto, nem um plano do que deve ser feito. Isso demanda uma emenda constitucional, como foi feita no Plano Cavallo, nos anos 1990”, salienta o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.
“Precisaria de um cenário fiscal muito mais equilibrado e uma força política muito grande no Congresso para aprovar essas medidas. E ele está muito distante de ter isso”, afirma.
Sobre um eventual fim do Banco Central da Argentina fica a pergunta: quem vai exercer a função emprestador de última instância ao sistema financeiro daquele país?
— André Perfeito (@perpheito) November 21, 2023
O economista da LCA Consultores Chico Pessoa reforçava a percepção e diz que a dolarização “é uma ideia tão difícil de encontrar suporte em questões práticas que quem votou em Milei por essa questão, vai se decepcionar”.
Dessa forma, a imprevisibilidade pode retirar ainda mais dinheiro internacional de um país que sofre com a falta de reservas e levar o peso argentino a se desgastar ainda mais nos próximos meses, de tal forma que a Argentina pode ficar ainda mais barata para o turista brasileiro no curto prazo.