
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou em entrevista a jornalistas latino-americanos que o governo brasileiro prioriza uma “aliança” com a Rússia, país que ele classificou como “agressor”. Segundo o jornal O Globo, Zelensky fez essas declarações ao comentar as posições do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à guerra entre Ucrânia e Rússia, que já se prolonga por mais de dois anos.
“Como se pode priorizar a aliança com um agressor?”, questionou Zelensky. O presidente ucraniano enfatizou que o Brasil deveria estar ao lado da Ucrânia, país invadido pelo exército russo, e cobrou de Lula um “ultimato” ao presidente Vladimir Putin. “A economia é importante até que chega uma guerra, e quando a guerra chega os valores mudam. Pesam mais as crianças, a família, a vida, só depois está o comércio com a Federação Russa”, afirmou Zelensky.
Há um consenso entre funcionários e diplomatas ucranianos de que o governo brasileiro mantém uma posição pró-Rússia, alinhada com a China. A Ucrânia acredita que Lula não participará da “Cúpula da Paz”, uma reunião em junho, convocada pela Suíça, para discutir a guerra.
“A última sinalização é de que Brasil e China estariam dispostos a participar se a Rússia participar. Mas a Rússia nos atacou. Por acaso o Brasil está mais próximo da Rússia do que da Ucrânia? A Rússia é hoje um país terrorista”, declarou Zelensky.
Despite all the cruelty of Russian shelling, the world can prove that the unity of all those who cherish human values is enough to protect lives.
Ukraine keeps repeating that Russian terror can be stopped and the lives of our cities and communities can be protected. We know the… pic.twitter.com/luM8r6hC1a
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) May 30, 2024
Contexto Internacional
Fontes da área internacional do governo, ouvidas pela GloboNews, avaliam que reuniões como a convocada pela Suíça não costumam ter resultados concretos, uma vez que não envolvem a participação do lado russo nas conversas. O Brasil já participou de pelo menos cinco encontros, de forma presencial ou virtual, para discutir o tema, patrocinados politicamente pela Ucrânia.
Interlocutores de Lula entendem que o governo ucraniano, de forma legítima, tenta angariar apoios para sua causa. Contudo, a gestão brasileira defende a necessidade de conversar com todos os lados do conflito, desde países ocidentais até os mais alinhados com a Rússia.
Zelensky e Lula: Diálogo e Divergências
Ao longo de 2023, Lula tentou, sem sucesso, atuar como mediador de um diálogo entre Ucrânia e Rússia para pôr fim à guerra. Em viagens à China e aos Emirados Árabes, o presidente do Brasil afirmou que a Ucrânia também tinha responsabilidade pela guerra e que Estados Unidos e União Europeia contribuíam para a continuidade do conflito armado. Essas declarações geraram críticas internacionais, levando Lula a amenizar o discurso e a defender a integridade territorial ucraniana.
Lula e Zelensky se encontraram em setembro de 2023, em Nova York, e em outubro, Lula conversou por telefone com Putin. Celso Amorim, chefe da assessoria especial de Lula, também esteve na Rússia e na Ucrânia para discutir os rumos do conflito armado.