poder por elas

“A política é um lugar particularmente inóspito para as mulheres”, diz vereadora Cris Monteiro

Em seu primeiro mandato, vereadora da Câmara Municipal de SP refletiu sobre sua trajetória e expectativas para o futuro

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Vereadora Cris monteiro fala sobre impressões de mulheres na política em entrevista exclusiva – Créditos: Reprodução/Partido Novo

Cris Monteiro tinha 30 anos de carreira no JP Morgan, maior banco de investimentos dos Estados Unidos, quando decidiu largar o posto de diretora e entrar para o mundo da política. “Não gosto de descrever assim, mas foi quase um chamado”, brinca. Hoje, aos 62 anos, a vereadora eleita pelo Partido Novo cumpre seu primeiro mandato na Câmara Municipal de São Paulo com o compromisso de melhorar a vida da população.

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“Desde que eu pedi demissão, eu não tive um dia em que eu me arrependi. Quero contribuir com a minha energia, força de trabalho e criatividade. Podemos fazer uma política baseada em dados e evidências, e não no que eu acredito. Eu não estou aqui para achar nada – estou aqui para ver os problemas reais e trabalhar para que eles sejam resolvidos na medida do possível”, elabora.

(Breve) história de vida

Cris nasceu em um bairro periférico no Rio de Janeiro, e, desde pequena, sofre com uma condição que perpassa todas as esferas da sua vida: a alopecia areata. Essa doença autoimune provoca a perda dos cabelos; efeito que, para uma criança, prejudicou sua convivência com vizinhos e colegas da escola. Após ser incentivada pelo seu pai a mergulhar nos estudos, se tornou uma menina “observadora e disciplinada”.

Pois bem – ela estava disposta encontrar um jeito de sair do seu local de origem. Trabalhou como recepcionista, fez faculdade de contabilidade e eventualmente entrou para o mercado financeiro. Aos poucos, foi crescendo, até se tornar diretora do JP Morgan. Pode parecer um caminho bem-sucedido, mas Cris adverte que veio com seus custos. (Esse e outros detalhes, ela conta na biografia “Careca de Saber”, que já está disponível nas livrarias).

Machismo na política

“Enfrentei dificuldades e desafios numa época em que ninguém falava desse assunto”, disse. Sua posição de liderança em um ambiente majoritariamente masculino veio com desavenças. “Eu me pergunto muito – se eu tivesse tido todo o apoio, onde eu teria chegado”.

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Apesar de ter certa “experiência” com o machismo, Cris confessa que o ambiente político apresentou mais desafios que o seu antigo trabalho.Chegando aqui neste espaço dominado por homens – alguns que têm muitos anos de mandato – é esperado que eu seja interrompida. Eu percebo uma falta grande – e digo isso com todo respeito – da consciência sobre essa questão das mulheres com meus colegas “.

Na opinião da vereadora, a solução ideal é a educação e o diálogo entre todas as partes. Além disso, ela argumenta que as demandas e denúncias de populações minoritárias só reforçam a importância da diversidade nos espaços de poder. “Por exemplo: os homens não menstruam. Como o espaço político é dominado por homens, fica muito difícil de deles fazer uma política pública que vá cuidar das questões menstruais das mulheres. Não é um assunto deles”, ilustra.

Outro exemplo disso é o Projeto de Lei 18/2023, também conhecido como “Não se Calem”. O texto estabelece um protocolo para casas noturnas, bares e outros estabelecimentos comerciais lidarem com casos de violência sexual. Proposto por Cris no ano passado, foi aprovado por unanimidade na Câmara após o caso de Daniel Alves. Assim, muitos locais passaram a dispor de cartazes em apoio às mulheres. Locais com a cartilha treinaram seus funcionários para amparar vítimas de situações de violência, informando-a de seus direitos e acionando as autoridades em um local seguro.

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Dia a dia de um vereador

O vereador é o político mais próximo do cidadão. Sua função é legislar para melhorar a vida da população e fiscalizar o poder executivo (a prefeitura).

Para tal, existem algumas comissões ordinárias que avaliam os projetos protocolados pelos vereadores e pela prefeitura:

  • Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa
  • Comissão de Finanças e Orçamento
  • Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente
  • Comissão de Administração Pública
  • Comissão de Trânsito, Transporte e Atividade Econômica
  • Comissão de Educação, Cultura e Esportes
  • Comissão de Saúde, Promoção Social, Trabalho e Mulher

No caso da Cris, isso se traduz em conciliar diferentes interesses. Sou muito procurada por associações de bairro, por exemplo. Faço esse diálogo com executivo, tento conciliar. É uma forma que eu sei fazer, porque eu trago uma bagagem de liderança e posso colocar isso à serviço da cidade”.

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A Câmara Municipal de São Paulo também recebe a população diretamente através das Audiências Públicas, que são reuniões abertas sobre assuntos de interesse público. Recentemente, por exemplo, foi aprovada a primeira sessão sobre a privatização da Sabesp.

O debate público, entretanto, ultrapassou seus limites quando alguns civis começaram a atacar a aparência de Cris na internet. Em sua defesa, a vereadora tirou sua peruca pela primeira vez e denunciou o comportamento nocivo.

Ainda assim, a vereadora não se permite abalar. Esperançosa, Cris ressalta que seu objetivo é inspirar aqueles que estão ao seu redor. “Quero que as pessoas olhem para mim, para o que eu estou fazendo, e vejam que é possível representar a população e ser dedicada ao mandato”, finaliza. 

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