O conhecido assessor político equatoriano, Jaime Durán Barba, insinuou durante entrevista ao jornalista Jorge Fontevechia, que o atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), queria contratá-lo como conselheiro. Durán colaborou ativamente no governo do ex-presidente argentino Mauricio Macri, sendo considerado por muitos como o “guru” do político. Durante a entrevista, ele comentou sobre o atual cenário eleitoral no Brasil.
Você acha que Bolsonaro pode vencer Lula?
Existe a possibilidade, ele chegou muito bem posicionado. O PT errou pensando que poderiam ganhar no primeiro turno. A opinião pública esperava algo e aconteceu o contrário, até Jair Bolsonaro estava melhor.
Nas eleições, a questão passa pelas expectativas. A eleição presidencial de Mauricio Macri foi um exemplo disso, algo era esperado de acordo com as pesquisas, e seu resultado foi muito ruim.
A ideia de que o segundo colocado do primeiro turno pode vencer o primeiro que possui mais votos já se repetiu no Equador, no qual você foi assessor de Guilherme Lasso, com uma diferença muito maior do que a que separa Bolsonaro de Lula.
No Equador, o resultado do primeiro turno foi Guilherme Lasso com 19% e Andrés Arauz com 35%, uma diferença enorme. Era uma eleição, segundo todos, impossível de ganhar, mas tinha uma análise estratégica: a ideia era fazer com que todos os partidos e governadores desaparecessem da campanha, isso pelou o voto da maioria do povo que era contra os políticos.
Embora tenha sido uma estratégia que assustou a maioria dos políticos, já que garantia a vitória, mas sem ninguém te apoiando.
Lula é apoiado por todos: imprensa, partidos de oposição e até empresários. Você diz que todos esses apoios, em vez de somar, neste momento de rejeição da política, acabam subtraindo?
Esses apoios enfraquecem Lula. Bolsonaro, sendo contra tudo o que está estabelecido, torna-se uma alternativa a outras pessoas. A mesma coisa aconteceu nos Estados Unidos com Donald Trump . É verdade que todos os políticos importantes apoiam Lula, e ao somar o apoio dos que ficaram em terceiro e quarto, ele exacerbou isso. Então, quem está bravo com os políticos já sabe em quem não votar.
Há uma chance de 50% muito complicada que pode até levar a um empate técnico nas eleições.
A situação é essa. Se o povo de Bolsonaro apostar na antipolítica, eles ganham no segundo turno, como fez Lasso. É um fenômeno mundial que se reflete nas eleições na Itália ou na França. A anti política tem uma força enorme.
No Brasil vi muitos votos contra o outro, mais do que a favor do próprio candidato. Você disse uma vez que, quando ocorrerem essas situações de absoluta antinomia, não importa quem esteja do outro lado, quem se opuser ao candidato mais odiado vencerá. Isso pode ser replicado na Argentina com Cristina Kirchner e Mauricio Macri?
No Brasil, há dois presidentes que concentraram quase todos os votos. Nos demais países, o erro da oposição é pensar que já venceu e que está em campo apenas com o kirchnerismo. Infelizmente, há uma perspectiva de uma futura crise colossal, e se as coisas se polarizarem entre dois candidatos fortes, representando o passado, um terceiro candidato pode aparecer.
Você já foi assessor do fenômeno e líder da Amazônia, Marina Silva, no Brasil. Nessas eleições, você não tentou ser assessor de um candidato?
Sim, havia uma possibilidade, mas tenho algumas limitações: sou liberal, não acredito nesse fundamentalismo que apareceu. Por outro lado, Marina Silva é uma mulher brilhante que foi um grande fenômeno, começando como desconhecida em 2009 e chegando a 20% com uma campanha muito particular.
*Texto originalmente publicado em Perfil.com