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O que se sabe sobre Jair Bolsonaro e a venda ilegal de joias?

Ex-presidente é indiciado por associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato; Moraes levantou o sigilo do relatório na segunda-feira

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Jair Bolsonaro é indiciado em inquérito de joias vendidas – Créditos: Agência Brasil

Em um inquérito enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal concluiu que o dinheiro obtido através da venda ilegal de joias sauditas dadas a Jair Bolsonaro custeou as despesas do ex-presidente em uma viagem aos Estados Unidos.

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Mas não foi só isso. De acordo com os cálculos dos agentes, houve uma movimentação de US$4.550.015, equivalente a R$25.298.083. Tudo começou com a venda dos adornos, recebidos como um presente da Arábia Saudita e, portanto, parte do patrimônio do Estado. As evidências colhidas pela PF apontam Bolsonaro como a peça chave do esquema.

Após o levantamento do sigilo do relatório de investigação, ordenado pelo ministro Alexandre de Moraes, a defesa do ex-presidente não se manifestou sobre os detalhes citados no inquérito. Os advogados disseram que, após a ordem do Tribunal de Contas da União, o político entregou os presentes à corte.

Na última sexta-feira (5), a PF indiciou Jair Bolsonaro e outras 11 pessoas envolvidas na investigação sobre a venda ilegal de joias recebidas de presente pelo governo brasileiro. No caso do ex-presidente, as acusações incluem associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato/apropriação de bem público.

Cabe à Procuradoria-Geral da República analisar o caso e determinar se mantém ou arquiva a denúncia contra o ex-presidente. O procurador geral já adiantou que pretende fazer sua avaliação após o período eleitoral deste ano.

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Quais são as evidências do caso das joias?

O relatório enviado pela PF ao STF, aponta que, em 4 de fevereiro de 2023, Bolsonaro acessou um link de um leilão de um ‘kit rosé’. O conjunto trazia um relógio, um anel, um terço e abotoaduras, todos confeccionados em ouro. Os objetos eram um presente que o ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, recebeu em viagem oficial à Arábia Saudita.

Mauro Cid enviou o link do leilão a Bolsonaro que, por sua vez, respondeu “selva”. A expressão é comumente usada por oficiais do Exército como um “ok” ou “tudo certo”. “Esta sequência apresentada: primeiro, o envio de link do leilão por Mauro Cid, segundo, o registro de acesso à página por meio de histórico e cookies por Jair Bolsonaro, em seu aparelho telefônico, e terceiro, a utilização da expressão ‘Selva’ reforçam a utilização deste jargão para confirmar a ciência, do ex-presidente, de que o kit ouro rosé fora exposto a leilão“, escreveu a polícia.

Ainda de acordo com a polícia, no dia do leilão do kit rosé, Cid enviou ao ex-presidente um link do Facebook que provavelmente era de uma transmissão ao vivo dos leilões da empresa Fortuna Auction. Em seguida, escreveu: “daqui a pouco é o kit”.

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Aquela não foi a primeira vez que Mauro Cid e Bolsonaro trocaram mensagens sobre presentes. Pouco antes de Jair viajar para os EUA, na véspera da posse de Lula (PT) na Presidência, o oficial fez uma pergunta sobre duas esculturas recebidas como presentes. “O senhor vai trazer árvore e o barco?”, escreveu Cid.

Em resposta, Bolsonaro enviou duas mensagens, e as apagou. Cid reage com um “sim senhor”, e os presentes seguiram para os EUA, onde o tenente tentou vender os dois objetos.

Bolsonaro e o depoimento de Cid

O general da reserva Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, também participou do esquema. O relatório da PF cita seu depoimento sobre ter entregue US$ 68 mil ao ex-presidente, de forma gradual, após vender relógios da Presidência.

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Mauro relatou que seu filho pediu para que ele recebesse em sua conta bancária nos Estados Unidos os valores provenientes da venda de bens pertencentes ao presidente da época. Por isso, disponibilizou sua conta para a transação.

“O declarante disse que Mauro Cid relatou posteriormente que se tratava da venda de relógios de propriedade do então presidente Jair Bolsonaro. Ao ser questionado como se deu os repasses dos valores, Lourena Cid afirmou que os valores foram repassados de forma fracionada conforme a disponibilidade de encontros com o ex-presidente”, disse ele.

No dia 28 de agosto de 2023, em depoimento à PF, Mauro Cid também afirmou que combinou com seu pai que o saque seria fracionado e, ao mesmo tempo, os US$ 68 mil seriam entregues conforme algum conhecido viajasse aos Estados Unidos. Um detalhe é que o dinheiro era sempre entregue em espécie, para evitar o registro no sistema bancário tradicional.

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O relatório da PF ainda menciona uma mensagem do ex-secretário da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes, ao ajudante de Bolsonaro. Cid responde que avisou o então presidente que eles iriam recuperar os bens. As mensagens foram enviadas em 21 de dezembro de 2022, quando Jair já estava nos Estados Unidos.

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