Comida na mesa

Preços dos alimentos disparam e renda dos brasileiros não acompanha

Em 2019, o brasileiro precisava trabalhar, em média, 88 horas para comprar os produtos da cesta básica. Agora, são totalizando cerca de 119 horas.

Preços dos alimentos disparam e renda dos brasileiros não acompanha
Em 2019, o brasileiro precisava trabalhar, em média, 88 horas para comprar os produtos da cesta básica. Agora, são totalizando cerca de 119 horas. (crédito: Oleg Nikishin / Getty Images)

Um levantamento mostrou que nos últimos três anos o orçamento do brasileiro esteve mais comprometido com as compras nos supermercados. Isso porque, enquanto a renda média do brasileiro subiu 19,7%, os alimentos ficaram 41% mais caros.

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Uma reportagem do G1, mostra o preço dos alimentos não acompanha a renda dos brasileiros. Mesmo quando os salários são reajustados pela inflação, a defasagem continua, porque os alimentos têm subido acima dela desde a pandemia fazendo com que o poder de compra fique comprometido.

Os dados apontam que em outubro de 2019 o trabalhador ganhava em média R$ 2.301, já no mesmo período deste ano, a média salarial é de R$ 2.754, representando alta de 19,68%. Já para o mesmo período a inflação ficou em 22,45 % que fez com que os alimentos ficassem 41,5% mais caros.

Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que, em outubro de 2019, 43,8% do salário mínimo era comprometido com a compra da cesta básica. Neste ano, essa fatia cresceu para 58,78%.  Os dados consideram o valor da cesta básica apurado na capital paulista, o mais alto encontrado pelo Dieese.

Em 2019, o brasileiro precisava trabalhar, em média, 88 horas e 39 minutos para comprar os produtos da cesta básica. Agora, são totalizando 119 horas e 37 minutos.

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Vilões da mesa brasileira

O coordenador dos índices de preços do FGV Ibre, André Braz,  explica que a inflação dos alimentos tem sido praticamente o dobro da inflação média, que é calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos acumulado até novembro deste ano o IPCA ficou em 5,90%, enquanto os alimentos subiram 11,84%.

Braz comenta que entre os muitos motivos para a alta dos alimentos estão episódios climáticos que prejudicaram a agricultura, a crise hídrica que afetou o preço da energia elétrica e a guerra entre Rússia e Ucrânia que reduziu a oferta de milho, trigo e soja.

O coordenador cita ainda a alta do diesel, que é o combustível usado pelas máquinas no campo e para escoamento da produção agrícola. “Então a produção de alimentos é desafiada pelo custo dos insumos básicos para o plantio, pelo custo do frete e pela própria força de trabalho”.

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O economista destaca que as hortaliças e legumes, o açúcar, os derivados do leite e do trigo acumulam uma inflação elevada. E embora a percepção do brasileiro seja diferente, as carnes são os únicos itens que não têm subido tanto de preço – elas pararam de subir recentemente e se estabilizaram em valores mais altos.

Segundo Braz, a queda na demanda e nos investimentos desfavorece o aumento de preços. E como esse cenário é global, isso pode ajudar a esfriar as tensões inflacionárias no Brasil e no mundo. “O desaquecimento da economia global prevista para os próximos meses em função do aumento de juros é que vai conter um pouco esse processo inflacionário. E a alimentação não está isenta disso, apesar de ser influenciada por outras questões”, diz.

Política fiscal 

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Braz aponta que a discussão do momento é como a política fiscal será absorvida pelo orçamento. Essa incerteza pode desvalorizar o real frente ao dólar, o que ajuda a aumentar a inflação de duas formas.

A primeira é que o país passa a exportar mais. Com o real desvalorizado, todo mundo tende a comprar produtos do Brasil porque estão mais baratos – mas, ao mesmo tempo em que o aumento da exportação é bom para a balança comercial, acaba sendo um desafio para a inflação desabastecendo o mercado interno.

O outro fator é a importação, que também eleva os preços. Com o real desvalorizado, o país paga mais caro pelos produtos em dólar, o que gera mais inflação. O trigo é um exemplo, pois é um dos produtos mais importados e matéria-prima para uma série de itens da cesta dos brasileiros, como pão e macarrão.

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Informalidade e salário mínimo

O economista Bruno Imaizumi, LCA Consultores, a informalidade que aumentou devido a pandemia, reflete negativamente e tem precarizando o mercado de trabalho.

Outro fator que afeta o poder de compra, segundo Imaizumi, é que o reajuste do salário mínimo pelo INPC, que tem praticamente a mesma variação do IPCA (a diferença está no perfil de famílias pesquisadas), não permite que a inflação dos alimentos seja reposta.

“A gente tem que lembrar que muitos brasileiros vivem na situação de pobreza, então tem essa questão da alta da alimentação dentro do IPCA bem maior que o próprio índice nesses últimos anos. Mas talvez em 2023 a gente tenha um alívio um pouco maior no aumento de preços dos alimentos”, aponta.

 

 

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