A taxa de fecundidade do Japão, que registrou uma queda acelerada durante muitos anos, caiu ainda mais, chegando a um piso histórico. Nesse cenário, o governo intensifica os esforços para incentivar os jovens a casar e a constituir famílias – lançando até mesmo seu próprio aplicativo de encontros.
Em Tóquio as autoridades locais estão tentando uma nova abordagem: lançar um aplicativo de encontros gerido pelo governo, que está em fase inicial de testes e estará totalmente operacional ainda este ano. “Por favor, use o app como ‘o primeiro passo’ para começar a caçar casamentos”, diz o site do aplicativo, acrescentando que o sistema de combinação de IA é fornecido pelo Governo Metropolitano de Tóquio. Os usuários precisam fazer um “teste de diagnóstico de valores”, e também há a opção de inserir as características desejadas de um futuro parceiro.
“Com base nos seus valores e nos valores que você busca em um parceiro, que podem ser determinados por meio de um teste, a IA irá apresentá-lo a uma pessoa compatível”, afirmou. “Aquilo que não pode ser medido apenas pela aparência ou pelas condições pode levar a encontros inesperados”.
O aplicativo chamou até a atenção do bilionário Elon Musk, que escreveu no X, antigo Twitter: “Estou feliz que o governo do Japão reconheça a importância deste assunto. Se não forem tomadas medidas radicais, o Japão (e muitos outros países) desaparecerão!”.
I’m glad the government of Japan recognizes the importance of this matter.
If radical action isn’t taken, Japan (and many other countries) will disappear! https://t.co/5zTwRCQC3o
— Elon Musk (@elonmusk) June 5, 2024
Os usuários devem ser solteiros, maiores de 18 anos “com desejo de se casar” e morar ou trabalhar em Tóquio, diz o site. O governo também enumera outras medidas para apoiar os casais – tais como o fornecimento de informações sobre o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, cuidados infantis e apoio à habitação, participação dos homens nas tarefas domésticas e na criação dos filhos, e aconselhamento profissional. “Esperamos que cada um de vocês que deseja se casar pensem sobre o que significa para você estar em um ‘casal’”, diz o texto.
Governo se atenta à taxa de fecundidade
De acordo com novos dados divulgados pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar nesta sexta-feira (7), a nação de 123,9 milhões de habitantes registrou apenas 727.277 nascimentos no ano passado. A taxa de fecundidade – definida como o número total de nascimentos que uma mulher tem durante a sua vida – caiu de 1,26 para 1,20.
Para que uma população permaneça estável, é necessária uma taxa de fertilidade de 2,1. Qualquer valor acima disso será responsável por uma expansão populacional, com uma grande proporção de crianças e jovens adultos, como se verifica na Índia e em muitos países africanos. Mas no Japão, a taxa de fecundidade tem estado bem abaixo da marca estável de 2,1 durante meio século, segundo especialistas. O número de crianças por mulher caiu abaixo desse nível pela primeira vez após a crise global do petróleo de 1973, que empurrou as economias para a recessão.
A tendência decrescente acelerou nos últimos anos, com o número de mortes ultrapassando o número de nascimentos, fazendo com que a população total diminuísse. Em 2023, o país registrou 1,57 milhão de mortes, mais que o dobro do número de nascimentos. Os especialistas dizem que o declínio deverá continuar durante, pelo menos, várias décadas e é, em certa medida, irreversível devido à estrutura populacional do país.
Mesmo que o Japão aumentasse a sua taxa de fertilidade amanhã, a sua população continuaria a cair até que a proporção distorcida entre jovens e adultos mais velhos se equilibrasse. O número de casamentos caiu em 30 mil no ano passado em comparação a 2022, enquanto o número de divórcios aumentou. O governo corre para atenuar o impacto, lançando novas agências governamentais focadas especificamente neste problema. Entre as iniciativas estão a expansão de instalações de cuidados infantis, a oferta de subsídios de habitação aos pais e, em algumas cidades, até mesmo pagar aos casais para terem filhos.