artefato histórico

Manto tupinambá que estava na Dinamarca retorna ao Brasil

Peça é datada ao século XVII; objeto é considerado sagrado para indígenas tupinambás

tupinambá
Manto Tupinambá que estava na Dinamarca é retornado ao Brasil – Créditos: Roberto Fortuna/Divulgação

Um manto do povo Tupinambá, que permaneceu por três séculos em Copenhague e foi cedido pela Dinamarca, chegou ao Brasil recentemente em segredo. A peça será incorporada ao novo acervo do Museu Nacional, reconstruído após um incêndio seis anos atrás.

Publicidade

Os Tupinambás, um dos primeiros povos indígenas a interagir com europeus na América do Sul, consideram o manto um objeto sagrado. Utilizado em rituais por caciques e líderes, eles creem que tais artefatos devem permanecer perto de seu povo originário.

A relíquia, com 1,2 metro de comprimento, é confeccionada com penas vermelhas dos pássaros guarás, presas a uma estrutura de fibras naturais. Conforme registros oficiais, está sob a custódia do Museu Nacional da Dinamarca desde 1689.

“A chegada do manto ao solo brasileiro tem um significado muito importante e vai fortalecer a luta dos povos indígenas. Essa é uma peça sagrada para o nosso povo, carrega nossa ancestralidade“, afirmou à Folha de S. Paulo Glicéria Jesus da Silva, artista plástica e líder do povo Tupinambá em Olivença, sul da Bahia.

A entrega do manto tupinambá ao Brasil marca o final de negociações que começaram há pelo menos dois anos, envolvendo o Museu Nacional do Brasil, a Embaixada Brasileira na Dinamarca, o Itamaraty e líderes indígenas brasileiros como Glicéria Tupinambá, Valdelice Tupinambá e Cacique Babau.

Publicidade

Desde 2000 que os tupinambás demandam o retorno da peça. O manto foi exposto na Mostra do Redescobrimento, em São Paulo, e muitos indígenas defenderam que o objeto não voltasse para o exterior.

Porém, em julho de 2023, a Dinamarca atendeu os apelos. O país havia anunciado a doação do manto ao Museu Nacional Brasileiro, conhecido pelas suas parcerias com os tupinambás. A transferência não foi fácil – perpassou diversos processos burocráticos.

Isso porque o manto não foi tratado como uma devolução. Não se sabe como ele foi parar na Europa. Portanto, era diferente de um retorno de um artefato histórico ao seu país de origem.

Publicidade

O sigilo sobre o manto se deu por questões de segurança e, ao mesmo tempo, contratuais, já que a cláusila do contrato assinado com os dinamarqueses exigia certo anonimato. O Museu Nacional não confirmou nem negou o recebimento da peça

Espera-se que o manto seja revelado em um evento no final de agosto, com a presença de autoridades e líderes indígenas. Atualmente, a peça está sendo submetida a um processo de desinfestação por meio de uma técnica conhecida como anóxia atmosférica, que envolve o artefato em um vácuo.

Os Tupinambás comemoraram a restituição do manto, mas expressaram descontentamento por não terem sido convidados pelo Museu Nacional para interagir com a peça após sua chegada ao Brasil.

Publicidade

“O manto precisa de cuidados religiosos e ainda não conseguimos prestar os rituais do nosso povo para esse ancestral. É uma peça sagrada, não é uma obra de arte”, disse Glicéria.

Espera-se que o retorno da peça ao Brasil também contribua para fortalecer a luta do povo Tupinambá pela demarcação da Terra Indígena Tupinambá em Olivença, que possui 20 aldeias em áreas de Mata Atlântica no sul da Bahia.

A área, com 47 mil hectares, se estende pelos municípios de Ilhéus, Buerarema, Una e São José da Vitória, e é lar de aproximadamente 5.000 indígenas. O processo de demarcação começou em 2004, após ações de retomada de terras, e desde 2012 está pendente a assinatura da portaria declaratória pelo Ministério da Justiça.

Publicidade

Siga a gente no Google Notícias

Assine nossa newsletter

Cadastre-se para receber grátis o Menu Executivo Perfil Brasil, com todo conteúdo, análises e a cobertura mais completa.

Grátis em sua caixa de entrada. Pode cancelar quando quiser.