inundação

PF indicia sete pessoas por morte de animais em Cobasi de Porto Alegre

Empresa diz que não tinha como acessar loja em shopping e advogado aponta ‘contorcionismo jurídico’ e ‘conclusões levianas’

Sete funcionários da Cobasi foram indiciados pela morte de animais que ficaram presos nas lojas durante a inundação em Porto Alegre.
Ibama, em conjunto com a Polícia Civil e Brigada Militar, em loja da Cobasi onde animais morreram nas enchentes do RS – Crédito: Reprodução Ibama

Sete funcionários da rede de petshop Cobasi foram indiciados pela morte de animais que ficaram presos nas lojas durante a inundação em Porto Alegre. As duas unidades no Rio Grande do Sul e a matriz em São Paulo também foram indiciadas por meio dos CNPJs. A polícia estima que cerca de 200 animais à venda morreram, incluindo aves, roedores e peixes.

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Na loja situada no subsolo do shopping Praia de Belas, no centro de Porto Alegre, foram encontradas 38 carcaças, mas o estoque da unidade indicava a presença de 175 animais, que ficaram submersos. Já na loja da Cobasi, localizada na avenida Brasil, bairro São Geraldo, ao menos uma ave e vários peixes foram encontrados mortos. Um grupo de aves e peixes foi retirado com vida, mas a empresa não informou quantos.

Cobasi manifesta “indignação” com indiciamento

O indiciamento baseia-se na Lei de Crimes Ambientais, que penaliza maus-tratos e a causação de dor e sofrimento a animais. A pena estipula detenção de três meses a um ano e multa, com aumento em caso de morte dos bichos e agravante para crimes em períodos de inundações. A Cobasi manifestou “indignação” com o indiciamento e afirmou que seus funcionários tomaram medidas para garantir que os animais estivessem em altura segura.

A delegada Samieh Saleh, responsável pela investigação, declarou que a Cobasi não tinha um plano de contingência para proteger os animais e não se mobilizou para resgatá-los após o início da inundação. “Fica demonstrado um total despreparo de uma rede que lida com animais vivos, que se propõe a promover seu bem-estar. Não souberam lidar com a situação, não prestaram o suporte necessário diante dos alertas sobre a enchente. Também não buscaram formas de retirar os animais das lojas depois do alagamento”, afirmou a titular da Dema (Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente), que integra o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) do estado à Folha.

A morte dos animais na loja do shopping foi descoberta depois que a ONG Princípio Animal conseguiu autorização judicial para ingressar no local. A liminar foi obtida em 18 de maio, e a unidade havia sido evacuada por funcionários no dia 3. “Os animais passaram por um cenário de horror nestes dias. A coloração e o cheiro da água ali dentro eram de esgoto, ficou impregnado na equipe mesmo depois de sairmos dali”, disse a delegada.

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O que alega a defesa

A Cobasi informou por meio de nota que não havia qualquer indicação da “magnitude do desastre” que atingiu o estado, e que “os colaboradores tomaram todas as providências para garantir que as aves, pequenos roedores e peixes estivessem em altura segura”. Segundo a empresa, os animais foram colocados em estruturas acima de 1 m de altura, mas a água chegou a 3,5 m, atingindo o teto da loja.

Paulo da Cunha Bueno, advogado da empresa, disse que a Cobasi vê com “completa indignação” o indiciamento de seus colaboradores, avaliado por ele como “contorcionismo jurídico”, que resultou em “conclusões levianas.” Segundo ele, “a equipe da loja localizada no shopping Praia de Belas, assim como toda a população e autoridades do RS, foi surpreendida por um evento da natureza de proporções imponderáveis, estado de coisas que, por si só, já tornaria incogitável que a causa da morte dos animais da loja possa ser distorcida para uma acusação de crime que demandaria, inclusive, requintes de crueldade em sua configuração.”

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A gerência do shopping, onde uma das lojas afetadas está localizada, havia solicitado que os lojistas não tentassem acessar o local. Mesmo assim, uma das gerentes tentou ir ao local, mas foi impedida pelos seguranças de acessar o shopping. A empresa também afirma que a gerente recebeu informações indicando que a loja não correria risco de inundação.

Sobre os computadores, a gerência da loja explicou que apenas quatro CPUs foram removidas, pois ficavam próximas do chão nos caixas, e que desconhecem o motivo de terem sido levadas ao mezanino. “Essas CPUs são equipamentos eletrônicos de menor importância em relação a todos os outros que permaneceram no salão inundado“, declararam.

A empresa lamenta profundamente o ocorrido e assegura que “a gerência da loja manteve-se sempre em contato com a direção do shopping sendo informada, em todas as oportunidades, de que a situação estava controlada e que, a despeito disso, os acessos às suas dependências não estavam autorizados por razão de segurança.”

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*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini

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