Conforme levantamento da OMS, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população.
É provável que isso não seja novidade para você, principalmente neste período caótico de pandemia. O Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) apontou que os casos de depressão praticamente dobraram desde o início da quarentena. Entre março e abril, dados coletados online indicam que o percentual de pessoas com depressão saltou de 4,2% para 8,0%, enquanto para os quadros de ansiedade o índice foi de 8,7% para 14,9%.
No entanto, o que talvez você não saiba é que há diversos alimentos tidos como mocinhos, mas que escondem uma certa vilania – ao menos, para a saúde mental. “Os alimentos que consumimos podem desempenhar um papel importante no aumento da frequência, profundidade e duração de episódios de ansiedade, especialmente se já houver pré-disposição. O ideal é gerenciar sua alimentação, se atentando ao que pode desencadear danos à sua psique e cortar de vez do cardápio”, afirma Elaine Di Sarno, psicóloga, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicológica pelo IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP).
Segundo a psicóloga, conhecer os alimentos que auxiliam no controle da ansiedade é tão importante quanto aqueles que se deve evitar. “Neste momento desafiador para a saúde, tanto física como mental, experimentar novos sabores também pode motivar o seu paladar na mudança da dieta”, aconselha Elaine.
Abaixo, a especialista aponta 5 alimentos e bebidas que podem aumentar a ansiedade:
Tofu
Ainda que a soja seja uma proteína magra, ela é embalada com inibidores de tripsina e protease (enzimas que tornam difícil a digestão de proteínas). Pior: a soja possui grande quantidade de cobre, um mineral ligado ao comportamento ansioso, além de obter oligossacarídeos, que provocam gases, podendo gerar situações constrangedoras para quem já sofre de ansiedade social. Por isso, evite o tofu processado e prefira as opções fermentadas, como o misô, que facilita a digestão.
Pão integral
“Acredite se quiser, mas o pão integral, tido como um aliado em dietas de reeducação alimentar, é um grande inimigo da saúde mental. Isso porque o glúten é o ponto de aderência para muitas pessoas ansiosas, especialmente em pacientes com doença celíaca (entre os quais os traços de ansiedade são comuns e podem desaparecer quando o glúten é removido)”, diz Elaine Di Sarno.
Segundo estudo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, pessoas com sensibilidade ao glúten, não celíacas, tiveram um aumento significativo nos sentimentos de depressão e ansiedade após três dias de um desafio que envolveu a ingestão do equivalente a três fatias de pão integral. Além disso, a maioria do trigo não orgânico é tratada com glifosato, um herbicida que provoca deficiências nutricionais, especialmente em minerais que estabilizam o humor.
Farelo de trigo
Apesar do seu grande conteúdo de fibras, o farelo de trigo, presente em alimentos como grãos integrais e feijões secos, é outro vilão dos ansiosos, devido à alta concentração de ácido fítico, que dificulta a absorção de zinco. “Níveis adequados de zinco são importantes para pessoas com tendência à ansiedade, uma vez que a falta deste mineral no organismo induz comportamentos ansiosos e até depressão”, comenta a psicóloga. A dica é cozinhar o farelo de trigo, pois ajuda na redução do ácido fítico.
Café
Sendo uma das fontes mais concentradas de cafeína, a bebida é um verdadeiro combustível para a ansiedade, segundo Elaine Di Sarno. De acordo com a pesquisa já citada da Universidade da Califórnia, pessoas com ansiedade social são mais suscetíveis a efeitos colaterais nervosos apenas com pequenas quantidades de estimulante. A cafeína também pode prejudicar a absorção de nutrientes essenciais para o equilíbrio do humor, como a vitamina D e as vitaminas do complexo B. O estudo sugere substituir o café por chás de ervas descafeinados, em especial, a camomila.
Vinho
Embora a ingestão de um copo de vinho por dia seja benéfica e até ajude a relaxar, o consumo em excesso pode ser uma das causas para o aparecimento da ansiedade ou para o seu agravamento. “O álcool é um sedativo, mas depressivo ao mesmo tempo. Apesar de proporcionar um efeito calmante e relaxante, o álcool é uma toxina que pode interferir nos níveis de serotonina, neurotransmissor responsável pelo bem-estar, desencadeando sintomas de ansiedade ou agravando quando estes já estão instalados”, justifica Elaine Di Sarno.