
A Justiça de São Paulo decide soltar o torcedor do Flamengo, Leonardo Felipe Xavier Santiago, suspeito de ter arremessado a garrafa de vidro que atingiu e matou a torcedora do Palmeiras Gabriela Anelli, durante confusão entre torcedores do Palmeiras e Flamengo no último sábado (8). Ele havia sido preso indiciado pela Polícia Civil de São Paulo por homicídio doloso consumado.
Leonardo foi liberado nesta quarta-feira (12) por volta das 17h40 do Centro de Detenção Provisória 4 de Pinheiros, em São Paulo.

Na decisão, a juíza Marcela Raia de Sant’Anna, da 5ª Vara do Júri, afirmou:
“Ao contrário do noticiado e afirmado pelo delegado de polícia, o autuado não confessou ter arremessado a garrafa contra os torcedores do time adversário. […] Em seu interrogatório negou que tivesse jogado qualquer objeto de vidro contra os torcedores palmeirenses, afirmado que tinha pedras de gelo nas mãos, as quais arremessou em revide a rojões que os palmeirenses teriam jogado contra os flamenguistas”.
Segundo a decisão da Justiça:
“A pessoa que arremessou a garrafa contra os torcedores palmeirenses trata-se de um homem que possui barba, sendo, portanto, fisicamente diferente do autuado, além de vestir camisa clara, diversa da camisa do time do Flamengo que o autuado vestia quando foi preso”;
“Tudo indica, portanto, que a garrafa que vitimou fatalmente Gabriella foi arremessada por outra pessoa que não o autuado, o que enseja a imediata revogação de sua prisão preventiva, com o prosseguimento das investigações para que o verdadeiro autor seja identificado, bem como para que eventual participação do autuado seja apurada”.
Além disso, a juíza determinou que o caso passe a ser investigado pelo DHPP.
“Diante da lamentável, para dizer o mínimo, postura do delegado de polícia, que se mostrou açodado e despreparado para conduzir as investigações, de rigor é a remessa dos autos ao DHPP, órgão especializado e preparado para a condução de investigações desta espécie”, destacou a juíza.
MP
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) havia pedido a revogação da prisão preventiva de Santiago nesta quarta-feira (12), além do encaminhamento do inquérito sobre o caso ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para continuidade das investigações.
O pedido foi feito pelo promotor de Justiça Rogério Zagallo, após o delegado responsável pelo Departamento de Operações Policiais Estratégicas, César Saad, ter declarado publicamente que um homem preso preventivamente pelo crime admitiu o arremesso do objeto que golpeou a vítima.
De acordo com o pedido, vídeos levados ao Ministério Público mostram uma garrafa sendo lançada por outra pessoa. O MPSP pede diligências que identifiquem o verdadeiro autor, a busca de mais imagens de câmeras de segurança e a oitiva dos guardas civis que estavam ao lado dos torcedores do Flamengo no momento do crime.
Defesa
Os advogados de Santiago afirmaram nesta quarta-feira (12), após conversa com Saad, que discordam das afirmações do delegado, segundo o qual o suspeito admitiu ter arremessado a garrafa contra a torcedora.
“O que houve foi uma interpretação equivocada porque, de fato, Leonardo confesso ter arremessado pedras de gelo. No entanto, algumas testemunhas, que são torcedores do Palmeiras, afirmam que Santiago arremessou a garrafa de vidro. Houve uma divergência na interpretação de como foi o arremesso e qual objeto foi arremessado”, disse Renan Bohus, um dos advogados de defesa.
Segundo o advogado Thiago Huber, no decorrer dos dias, surgiram diversas imagens e nenhuma delas mostrava, de fato, quem jogou a garrafa, o que tona impossível provar que o autor foi Leonardo Santiago.
“Não há imagens do Leonardo com uma garrafa na mão, quanto mais arremessando. Essa versão foi apresentada pelo Leonardo desde o início, antes mesmo de ele ser assistido por advogados, antes mesmo de a defesa entrar no caso. Ele prestou depoimento quando foi preso em flagrante, sozinho. E, desde o início, nega veementemente a prática do arremesso. Ele disse que estava com pedras de gelo na mão e que estas sequer chegaram a ultrapassar a barreira que separava os torcedores”, afirmou Huber.
Os advogados ressaltaram que o inquérito é muito complicado porque existem muitas imagens, que não são de boa qualidade, e só existem testemunhas do lado da torcedora do Palmeiras. Para ambos, a prisão de Santiago foi precipitada, embora entendam os motivos da prisão por haver testemunhas que o reconheceram como o autor do arremesso da garrafa.
Eles disseram que já estão providenciando um pedido de habeas corpus para Santiago e que o inquérito seja arquivado e as investigações prossigam para chegar ao verdadeiro responsável pelo arremesso que tirou a vida da torcedora.
“A defesa lamenta profundamente a morte da jovem, esse triste episódio. É uma vida que se perde de uma menina com tanto sonhos e planos. Nós estamos ao lado da justiça, da verdade. A partir do momento em que se identifica realmente o agressor, aquele que foi responsável pelo arremesso, ele deve ser processado, julgado e punido. Porém, infelizmente, temos convicção de que um inocente está detido indevidamente”, disse Huber, advogado do torcedor do Flamengo.