TECNOLOGIA

Os semicondutores representam a nova frente de batalha entre EUA e China

Grande parte da produção de chips está concentrada em Taiwan, país que o governo chinês considera parte integrande de seu território.

Os semicondutores representam a nova frente de batalha entre EUA e China
A batalha global pela fabricação dos chips envolve um mercado estimado em mais de US$ 500 bilhões (Crédito: Canva Fotos)

Os pequenos semicondutores estão no centro de mais uma grande batalha tecnológica entre a China e os Estados Unidos, os dois maiores gigantes econômicos do mundo. Na verdade, é também uma grande batalha  por poder. Os semicondutores são pequenos fragmentos de silício, chamados de chips, que formam uma cadeia produtiva no valor de US$ 500 bilhões, cerca de R$ 2,5 trilhões (o PIB do Brasil em 2021 foi de R$ 7,5 trilhões, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE).

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Segundo o professor Chris Miller, da Universidade Tufts, (EUA), e autor do livro Chip Wars (“Guerras dos chips”, em tradução livre), afirma, em entrevista à BBC Internacional, que os dois países estão travando uma corrida armamentista na região da Ásia e do Pacífico. “Esta batalha acontece tanto nas esferas tradicionais, como o número de navios ou mísseis produzidos, mas cada vez mais em termos da qualidade dos algoritmos de Inteligência Artificial (IA) que podem ser empregados em sistemas militares”, explica ele.

No momento, os Estados Unidos estão vencendo, mas a guerra dos chips declarada contra a China está remodelando a economia global.

FABRICANTES DE CHIPS

A fabricação de semicondutores é complexa, especializada e profundamente integrada. Um iPhone contém semicondutores projetados nos Estados Unidos, fabricados em Taiwan, no Japão ou na Coreia do Sul e os aparelhos são montados na China. A Índia também está investindo mais nesta indústria e poderá aumentar sua participação no futuro.

Os semicondutores foram inventados nos Estados Unidos, mas, ao longo do tempo, o leste asiático emergiu como centro de fabricação, em grande parte devido aos incentivos governamentais, incluindo subsídios.

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Isso permitiu que Washington desenvolvesse laços comerciais e alianças estratégicas em uma região vulnerável à influência soviética durante a Guerra Fria. E essas alianças são tão importantes hoje quanto eram naquela época, em razão do recrudescimento da influência de Pequim na região da Ásia e do Pacífico.

A corrida para a fabricação em escala de chips melhores e mais eficientes está em andamento – e, quanto menores os semicondutores, melhor. Isto representa um desafio: quantos transistores – as minúsculas chaves eletrônicas que podem ligar e desligar uma corrente – você pode encaixar na menor pastilha de silício?

De acordo com Jue Wang, sócia da empresa Bain & Company. no Vale do Silício, explica que a indústria de semicondutores chama de lei de Moore. Essencialmente, a densidade dos transistores dobra ao longo do tempo, sendo um objetivo difícil de atingir. “É o que permite que os nossos telefones fiquem mais rápidos, nossos arquivos de fotos digitais fiquem maiores, nossos aparelhos domésticos inteligentes fiquem mais inteligentes ao longo do tempo e que o nosso conteúdo de redes sociais fique mais rico”, explica ela.

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TAIWAN NO CENTRO DA DISPUTA

No meio do ano passado, a Samsung tornou-se a primeira empresa a começar a produção em escala de chips de três nanômetros. Depois, seguiu-se a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) – o maior fabricante de chips do mundo e o principal fornecedor da Apple.

Três nanômetros é muito menos do que a espessura de um fio de cabelo humano, que varia de cerca de 50 a 100 mil nanômetros. Esses chips menores, “de ponta”, são mais poderosos, o que significa que podem ser usados em dispositivos mais valiosos, como supercomputadores e Inteligência Artifical (IA), a internet das coisas.

O mercado dos semicondutores mais antigos, usados nos aparelhos mais comuns das nossas vidas, como micro-ondas, máquinas de lavar e geladeiras, também é lucrativo, mas sua demanda provavelmente irá diminuir no futuro.

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A maior parte dos chips usados no mundo atualmente é fabricada em Taiwan (oficialmente República da China), formando o que a presidente da ilha, Tsai Ing-Wen, chama de “escudo de silício” – em outras palavras, uma proteção contra a China, que reivindica seu território.

Pequim também fez da produção de chips uma prioridade nacional, com investimentos agressivos em supercomputadores e IA. O país ainda está longe de ser um líder global, mas vem avançando rapidamente na última década, especialmente nas suas capacidades de projetar chips, segundo Miller.

“O que você encontra historicamente é que, sempre que países poderosos fazem avançar sua tecnologia de computação, eles as aplicam em sistemas militares e de inteligência”, acrescenta ele. Este ponto e sua dependência de Taiwan e de outros países asiáticos para o abastecimento do mercado vêm incomodando os Estados Unidos.

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