Governo desiste de leilão de arroz, confirma ministro

Ministro da Agricultura afirma que preços “já cederam”; leilões surgiram como solução para compensar a perda de arroz nas enchentes do RS

arroz
Governo suspende leilão de arroz por tempo indeterminado – Créditos: Canva

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) suspendeu o leilão do arroz por tempo indeterminado. Foi o que confirmou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira (3). Além de cancelar a iniciativa, o governo tenta negociar com o agronegócio para controlar os valores do produto.

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 “Os preços do arroz já cederam e voltamos aos preços normais”, disse. Originalmente, o intuito do leilão era complementar a quantidade de arroz perdida durante as enchentes no Rio Grande do Sul. Na época, o estado já havia colhido 80% da sua safra, e associações diziam que não havia necessidade de importar o grão.

Ainda assim, o governo quis comprar de outros países. O próprio ministro Fávaro chegou a afirmar que a tragédia havia gerado uma especulação no preço do arroz. De acordo com dados do IBGE, o preço subiu 30% em um ano.

“Tivemos problemas, é fato, nós cancelamos esses leilões. Mas o fato real é que, com a sinalização de disponibilidade do governo de comprar arroz importado e abastecer o mercado brasileiro, além da volta da normalidade em estradas, os preços do arroz já cederam e voltamos aos preços normais”, explicou.

Tentativas de leilão

O primeiro leilão do governo, marcado para 21 de maio, foi suspenso. O último, que aconteceu em 6 de junho, foi anulado após evidências de “irregularidades” não especificadas e conflitos de interesse dentro das empresas.

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As 263 mil toneladas arroz seriam vendidas em pacotes de cinco quilo por R$20, com rótulo do governo. O valor era mais barato que o preço médio do grão em São Paulo, aproximadamente R$29 segundo o Procon-SP.

Três das quatro empresas vencedoras não eram do ramo do arroz ou da importação de grãos, fato que gerou muitas críticas ao governo. As lojas sorteadas eram Icefruit, uma fábrica de polpas de frutas em SP; Wisley A de Souza Ltda, loja de queijos de Macapá (AP); e a ASR Locação de Veículos e Máquinas, de Brasília.

Por exemplo, a Wisley alterou seu capital social de R$ 80 mil para R$ 5 milhões no site da Receita Federal poucos dias antes do sorteio. A empresa obteve a maior parte do leilão, arrematando R$ 736 milhões naquela época. As vencedoras receberiam fundos governamentais para importar e entregar o produto nas unidades da Conab.

Simultaneamente, Fávaro mencionou na Comissão do dia 19 que houve uma “nítida falta de interesse” por parte das empresas brasileiras no leilão e que duas das vencedoras, como a Zafira Trading e a Icefruit, possuíam “grande capacidade e expertise” para executar a operação.

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O leilão também foi criticado pelo fato de um ex-assessor parlamentar do secretário de Política Agrícola, Neri Geller, ter intermediado boa parte da venda de arroz. Por causa disso, o governo exonerou Geller do cargo no dia 12 de junho. O ex-assessor era o advogado Robson Luiz de Almeida França, dono da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e da Foco Corretora de Grãos, empresas que intermediaram 44% da operação.

França também é socio de Marcello Geller, filho do secretário. “Anulou o processo porque faz parte, e é num ato da gestão, combater qualquer tipo de conflito de interesse. É a prevenção. É a prevenção. Não se trata de juízo de valor. […] É muito importante dizer que a exoneração do ex-ministro Neri Geller não se trata de um ato de juízo de valor”, disse Fávaro, durante a audiência na Câmara, em junho.

Produção de arroz

Ainda de acordo com Fávaro, o governo se reunirá com Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) e representantes da indústria nesta quarta. “Vamos buscar alguns compromissos com eles, de estabilidade de preço, de logística e frete. Eles mesmos podem nos dizer um momento, se for necessária, alguma intervenção do governo. Por ora é mais prudente, já que os preços cederam, que a gente tome outras atitudes de estímulo à produção. Não se faz necessário novos leilões de importação“, disse.

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O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, também irá conversar com representantes do setor nesta quarta. A ideia é que seja assinado, no final do encontro, um termo de compromisso e responsabilidade sobre os preços do arroz.

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