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Quem é padre Julio Lancellotti, alvo de CPI?

Nascido no bairro do Brás, ele é conhecido por seu trabalho em defesa das pessoas em situação de rua

Dez vereadores desistem de apoiar CPI sobre ONGs e padre Lancellotti
Padre Júlio Lancellotti – Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil

Nascido no bairro do Brás, o católico Júlio Lancellotti, 75 anos, é um padre conhecido por seu trabalho em defesa dos direitos humanos. O religioso é um dos alvos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a ser instalada na Câmara Municipal de São Paulo que investigará organizações não governamentais que atuam na região central ocupada por usuários e dependentes químicos.

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O padre Júlio Lancellotti atua desde 1986 como pároco na Igreja de São Miguel Arcanjo, localizada na Zona Leste da cidade e tem o trabalho dedicado à população em situação de rua na capital paulista. Também é coordenador da Pastoral do Povo da Rua, da Arquidiocese de São Paulo.

O padre contou em entrevista ao Foras de Série que ingressou no seminário aos 12 anos, incentivado pela comunidade local e pela irmã Inezita. Lá, ele encontrou rigidez e castigo físico, sendo humilhado e eventualmente expulso por não se adequar à doutrina.

Após desilusões e experiências negativas, Júlio decidiu abandonar o ofício religioso aos 19 anos, estudando pedagogia e lecionando. Começou a trabalhar no Serviço Social de Menores e no Reformatório Modelo de Menores, denunciando violência e corrupção, especialmente durante a ditadura militar no Brasil.

Ele contou que conectou-se com a Pastoral do Menor através do arcebispo Dom Luciano, encontrando propósitos semelhantes e migrando para essa atuação. Dom Luciano sugeriu que Júlio voltasse ao seminário, desta vez apoiando suas visões alinhadas com a Teologia da Libertação.

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Padre Júlio ressaltou que as ações da Pastoral do Menor eram criticadas por alguns setores da sociedade, e as intenções de quem defende grupos marginalizados questionadas. O cenário atual, dessa forma, não é novidade.

O religioso já foi homenageado por diferentes instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Câmara dos Deputados e Presidência da República. No ano passado, foi condecorado com a medalha da Ordem do Mérito, no Grau Grã-Cruz, concedida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Durante a cerimônia, o ministro da Justiça Flávio Dino destacou que “esse trabalho social é um trabalho de justiça e um trabalho de segurança pública, porque só existe segurança pública quando há plenitude de direitos para todos. Não há possibilidade de nós termos segurança na sociedade apenas com a ideia de que a polícia vai resolver tudo. Não vai. Não há paz sem justiça“.

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A psicóloga Ivana Bortoto costumava frequentar as missas do padre Júlio muito antes da exposição midiática ser algo recorrente na vida do religioso. Em entrevista à reportagem, ela conta que teve sua filha, Mariana, batizada, em janeiro de 2001, na Igreja de São Miguel Arcanjo.

Eu conheci o padre Júlio em 1995, num casamento que fui, e logo me encantei. É um traço muito característico dele transformar cada cerimônia em algo especial“, afirmou. “Lembro que na época minhas filhas eram pequenas e elas faziam muita bagunça na igreja, o que fazia as pessoas se entreolharem, gerando aquela situação desconfortável. E então ele disse uma vez: ‘essas crianças são como passarinhos da natureza. Nós temos que ter amo para entender esse canto’. Isso deixou as pessoas mais tranquilas, mais amorosas. Nunca me esqueci disso

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Padre Júlio Lancellotti, Ivana Bortoto e Rodolfo de Freitas – Crédito: Arquivo Pessoal/ Perfil Brasil

CPI contra padre Júlio

O vereador Rubinho Nunes (União Brasil), ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) protocolou o pedido de CPI na Câmara Municipal em 6 de dezembro de 2023. O requerimento de Rubinho é um dos 45 pedidos de CPIs feitos pelos vereadores nesta legislatura.

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Dessa forma, para a comissão poder “furar” a fila das demais proposições e ser instalada, é preciso haver um acordo entre todos os parlamentares da Casa e, na sequência, que o requerimento passe por duas votações em plenário e alcance ao menos 28 votos (metade mais um dos 55 vereadores).

Rubinho afirma que a comissão tem a “finalidade de investigar as Organizações Não Governamentais (ONGs) que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a região da Cracolândia.

Em resposta, a Arquidiocese de São Paulo divulgou uma nota em defesa do padre Júlio Lancellotti. Confira:

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Lei Padre Júlio Lancellotti

Em dezembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania  Silvio Almeida assinaram o decreto que regulamenta a Lei Padre Júlio Lancellotti, em cerimônia no Palácio do Planalto.

A lei veda o emprego de materiais, estruturas, equipamentos e técnicas construtivas hostis nos espaços livres de uso público que tenham como objetivo ou resultado o afastamento de pessoas em situação de rua.

 * Sob supervisão de Lilian Coelho

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