Genética ou ambiente?

Como funciona o cérebro dos psicopatas?

Durante a construção de uma ferrovia, Phineas Gage sofreu um acidente que resultou na perfuração de seu crânio, alterando sua personalidade. O caso é um dos mais emblemáticos na história da neurociência

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Quebra-cabeça de cérebro – Créditos: depositphotos.com / HayDmitriy

O caso de Phineas Gage, ocorrido em 1848, é um dos mais emblemáticos na história da neurociência e dos estudos sobre psicopatas. Durante a construção de uma ferrovia em Vermont, Gage sofreu um acidente que resultou na perfuração de seu crânio por uma barra de ferro, alterando drasticamente sua personalidade. Este incidente forneceu insights significativos sobre a relação entre lesões cerebrais e mudanças comportamentais, sendo debatido por especialistas ao longo de décadas.

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Antes do acidente, Gage era descrito como um supervisor competente e de comportamento estável. Após o incidente, sua personalidade sofreu transformações notáveis, tornando-se impulsivo e frequentemente imprudente, o que intrigou a comunidade científica. Estas mudanças comportamentais foram cruciais para o desenvolvimento de teorias sobre as funções cerebrais específicas, especialmente no que diz respeito ao córtex frontal.

O papel da amígdala no cerébro dos psicopatas

Estudos modernos sobre psicopatas frequentemente mencionam a amígdala, uma estrutura cerebral com um papel central no processamento das emoções. Pesquisas indicam que alterações na amígdala podem estar associadas a características psicopáticas, como a falta de empatia e medo reduzido. Essas descobertas reforçam a importância da amígdala na regulação emocional e no comportamento moral.

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Especialistas têm observado que psicopatas frequentemente apresentam uma amígdala menos ativa, o que pode influenciar suas interações com o mundo ao redor. Essa disfunção torna esses indivíduos menos sensíveis a ameaças, afetando suas decisões morais e a habilidade de reconhecer emoções alheias.

“Quanto mais traços psicopáticos uma pessoa possui, menor costuma ser a amígdala dela”, relata o neurocientista Kent Kiehl, professor da Universidade do Novo México, à Folha de São Paulo.

Além da amígdala, o córtex orbitofrontal também está sob investigação como uma estrutura potencialmente afetada em indivíduos psicopáticos. Esta parte do cérebro, localizada logo atrás dos olhos, é responsável pelo controle de impulsos. Alterações nesta área podem explicar comportamentos impulsivos frequentemente associados à psicopatia.

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Estudos sugerem que disfunções no córtex orbitofrontal podem contribuir para tomadas de decisão imprudentes e comportamentos não planejados. Este achado é compatível com o comportamento de Phineas Gage após seu acidente, onde se observou um aumento na imprevisibilidade e impulsividade.

“Além de estruturas como a amígdala serem menores e menos responsivas aos sistemas de ameaça e punição, essas pessoas reagem de um modo diferente aos medos dos outros que estão ao redor. Os psicopatas não entendem, não reconhecem e não reagem às emoções alheias”, explica a psicóloga Abigail Marsh, professora de neurociência da Universidade Georgetown, nos EUA, à Folha de São Paulo.

Genética ou ambiente?

A origem da psicopatia continua a ser um tema de intenso debate. Pesquisas indicam que tanto fatores genéticos quanto ambientais influenciam o desenvolvimento deste transtorno. Aspectos hereditários podem predispor psicopatas, mas o ambiente desempenha um papel crucial em moldar o comportamento ao longo do tempo.

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Crianças com um perfil genético associado à psicopatia podem exibir comportamentos que se intensificam quando enfrentam um ambiente inadequado. Experiências de vida, incluindo a forma como são tratadas por cuidadores, podem acentuar ou atenuar traços psicopáticos, sugerindo que intervenção precoce e ambiente favorável podem mitigar os riscos.

O caso de Phineas Gage continua a ser uma referência crucial no estudo da neurociência. Seu acidente evidenciou a importância das áreas frontais do cérebro na regulação do comportamento e emoção. Observações sobre sua mudança de personalidade proporcionaram um entendimento mais profundo dos efeitos de lesões cerebrais nas características individuais.

Mais de um século e meio após o acidente de Gage, os cientistas continuam a se basear em suas experiências para investigar e entender as complexidades do cérebro humano, incluindo a origem de transtornos mentais como a psicopatia.

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