FAIXA DE GAZA

Agricultor palestino sacrifica cavalos para não morrer de fome

Devido ao conflito, Gibril e sua família foram obrigados a buscar meios de sobrevivência em uma barraca improvisada próxima a uma escola que antes estava sob a administração da ONU e que agora abriga milhares de outros deslocados

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Faixa de Gaza – Crédito: Thair Al-Hasany/Getty Images

“Matei os cavalos para alimentar as crianças”, contou o agricultor palestino Abu Gibril, de 60 anos, à agência de notícias AFP. Ele é um dos refugiados do campo de Jabalia, que fica no norte da Faixa de Gaza. Como milhares no enclave, Gibril passa fome e, para não morrer, tomou a difícil decisão de abater seus dois cavalos em segredo.

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O conflito entre Israel e o Hamas deixou o agricultor palestino sem nada. Sua residência e terras agrícolas em Beit Hanun foram devastadas pelos combates, forçando sua família a se realocar para o campo de Jabalia. Vale ressaltar que, segundo a ONU, antes dos confrontos, Jabalia já era o maior campo de deslocados da Faixa de Gaza, abrigando mais de 100 mil pessoas em uma área de apenas 1,4 km².

Devido ao conflito, Gibril e sua família foram obrigados a buscar meios de sobrevivência em uma barraca improvisada próxima a uma escola que antes estava sob a administração da Organização das Nações Unidas e que agora abriga milhares de outros deslocados. Embora os ataques não os tenham atingido diretamente, o agricultor palestino confessou que a fome está acabando com muitas vidas.

Neste sábado (24), por exemplo, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, divulgou que Mahmud Fatuh, um bebê de dois meses, faleceu devido à desnutrição em um hospital da Cidade de Gaza.

A emergência da fome 

Nesta sexta-feira (23), em Jabalia, mulheres e crianças estavam em fila em um ponto de distribuição de alimentos. Enquanto isso, os residentes do campo procuram nos arredores por qualquer coisa comestível, até mesmo por alimentos podres. Uma mulher que preferiu se manter no anonimato relatou à agência AFP: “Não temos nem um centavo em casa. Vamos de porta em porta, mas ninguém nos dá nada”.

Dezenas se juntaram para protestar contra a situação de fome em Jabalia na sexta-feira. Um dos líderes, Amer Abu Qamsan, fez um apelo à comunidade internacional para que as pessoas de Gaza recebam ajuda. Crianças seguravam placas com mensagens como “os bombardeios não nos mataram, mas a fome está nos consumindo” ou “a fome nos consome por dentro”.

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De acordo a ONU, cerca de 2,2 milhões de habitantes passam fome em Gaza. A escassez severa de alimentos pode resultar em um aumento significativo na mortalidade infantil na região. O Unicef já alertou que uma em cada seis crianças com menos de dois anos está sofrendo de desnutrição grave. Além disso, a situação é particularmente preocupante no norte da Faixa de Gaza, onde a onda de violência é mais intensa. Vale destacar que na última terça-feira (20), o Programa Mundial de Alimentos (PMA) suspendeu o auxílio por conta de ataques e do comportamento de multidões famintas que tentam saquear os caminhões de ajuda humanitária.

 * Sob supervisão de Lilian Coelho

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