Opinião

Globalização ou multipolaridade

*Por Felipe Frydman – Diplomata.

Globalização ou multipolaridade
(Crédito: Rick Gershon/Getty Images)

O crescimento da Ásia nas últimas décadas intensificou o debate sobre o fim da hegemonia dos Estados Unidos e sua substituição pela multipolaridade ou bipolaridade, onde várias potências coexistiriam, dando origem a um novo equilíbrio nas relações internacionais. A principal característica desse processo, também descrito como pós-ocidental, é o advento da China para exemplificar a perda da influência ocidental.

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A história indica que essa mudança não deve ser uma surpresa. Os países que alcançaram o desenvolvimento estão destinados a crescer a uma taxa menor do que os países em desenvolvimento. Ninguém pode esperar que a Europa e os Estados Unidos cresçam a taxas de 10%, enquanto os países menos desenvolvidos podem, até que suas economias comecem a amadurecer e reduzam suas taxas de investimento para melhorar o padrão de vida de suas populações. Se a tendência continuar, os países em desenvolvimento devem eliminar a pobreza aproximando-se do consumo das sociedades avançadas.

A globalização contribuiu para um maior equilíbrio nas relações internacionais. A reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial, como Japão e Coréia e outros membros da Asean, foi seguida pelas nações do Leste Europeu, Austrália, México e Brasil entre outros e uma significativa transferência de renda para países exportadores de petróleo. A lista se completa com a China e um despertar tardio da Índia e da Turquia.

A China soube aproveitar as condições da globalização, quando abandonou suas políticas de coletivização forçada que inibiam o desenvolvimento das forças produtivas, causando grandes fomes. A abertura de 1978 contou com o apoio do FMI, do Banco Mundial e dos Estados Unidos e Europa, que abriram seus mercados às exportações daquele país. A China manteve uma política consistente de atração de investimentos de multinacionais que ajudaram a modernizar sua estrutura econômica.

O relativo retrocesso da América Latina gerou uma corrente contra a globalização em favor da multipolaridade. De acordo com essa linha de pensamento, a globalização restringiu os graus de liberdade para desenhar a política de crescimento; a multipolaridade permitiria aproveitar a competição entre as potências em benefício da região. Aliás, esse olhar só pode ser descrito como ingênuo; mais uma vez coloca de fora as razões da falta de crescimento e espera contar com uma assistência “desinteressada” para evitar enfrentar reformas internas.

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A globalização foi baseada em uma estrutura de instituições multilaterais onde a mais importante, mesmo com suas falhas, é a Organização das Nações Unidas com seu Conselho de Segurança permanente de cinco membros, onde a China obteve um lugar em 1971. Globalização é sinônimo de multilateralismo com suas regras que o as partes devem respeitar, para evitar confrontos e garantir uma resolução pacífica dos conflitos. A preferência pela multipolaridade em qualquer de suas formas implica uma rejeição da globalização e do sistema de regras que a sustenta sem oferecer qualquer alternativa.

A recente invasão da Ucrânia, a apropriação do Mar da China e a proliferação de armas nucleares como a invasão do Iraque na época, entre outras, detonaram as regras que deveriam reger a convivência entre as nações. Mas, em vez de acentuar o colapso do multilateralismo com discussões em que se utilizam eufemismos, o esforço deve se concentrar no restabelecimento das instituições da globalização, que permitiram que muitos países, inclusive a China, crescessem e se desenvolvessem.

As tentativas de criação de organizações paralelas ou de afirmação do poder econômico e militar ameaçam a coexistência de diferentes regimes e prejudicam as possibilidades dos países mais vulneráveis ​​de se inserirem no mundo e aproveitarem seus benefícios.

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*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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