Abebooks é um site onde livreiros e colecionadores de todo o mundo oferecem materiais que hoje competem em valor com as obras pictóricas e os NFTs recentes, derivados da tecnologia de criptomoeda, e nele se encontram os livros mais caros do mercados. Este ano, eles deram um lance de uma carta do escritor alemão E.T.A. Hoffmann (1776-1822) a seu editor para uma edição de desenhos sobre o oeste americano. Para explorar esses objetos analógicos, selecionamos quatro livros e um manuscrito que totalizam 827.629 euros (US$ 936.255,88).
363.174,86 euros – A riqueza das nações (Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações), de Adam Smith
Primeira edição de W. Strahan e T. Cadell, Londres, 1776. De acordo com Butler (The Condensed Wealth of Nations, 2011) é a primeira expressão da teoria do livre comércio. Nele, Smith descreveu o conceito de produto interno bruto como a medida da riqueza nacional; identificou os enormes ganhos de produtividade que a especialização gerou; onde reconhece que ambas as partes se beneficiaram com a negociação, não apenas o vendedor; também expressa que o mercado é um mecanismo automático que aloca recursos com grande eficiência. Esta cópia pertenceu a Charles W. Vane, 3º Marquês de Londonderry (1778-1854), oficial do exército, diplomata (ex-líbris). Smith nasceu em 1723, no pequeno porto escocês de Kirkcaldy, Edimburgo. Seu pai era um coletor de alfândega, um trabalho que incorporou a filosofia mercantilista que ele enfrentou.
258.762,09 euros – Elementos de Euclides. [Traduzido do árabe por Adelard of Bath (1080-1152). Editado por Giovanni Campano da Novara (1220-96)]
Primeira edição de Erhard Ratdolt, Veneza, 1482. Uma compilação do conhecimento matemático grego antigo, sintetizado e apresentado por Euclides em 300 aC. cerca de. O texto de Campano é uma reelaboração livre de traduções latinas anteriores, principalmente a segunda versão de Adelardo, com evidências adicionais tornando-o “o Euclides árabe-latino mais adequado”. Ele contém suposições ou postulados não comprovados (hoje axiomas), tais como: “uma linha é um comprimento sem largura”, cuja influência pode ser encontrada na filosofia de Kant ou nos textos de Franz Kafka. O livro II levanta os princípios geométricos da seção que, durante o Renascimento, tanto os artistas quanto os arquitetos viriam a se tornar “a seção áurea”. A placa indica que foi comprado na Tregaski em 6 de julho de 1898, seis meses após a morte de Lewis Carroll. Está escrito a lápis na primeira página: “Este livro pertenceu ao Reverendo C.L. Dodgson (Lewis Carroll) que, além de Alice no País das Maravilhas, etc., escreveu Euclides e seus rivais modernos, Londres, 1879, na qual sem dúvida se refere a ele”.
81.714,34 euros – O Falcão Maltês, de Dashiell Hammett. Publicado por Alfred A. Knopf, Nova York, 1930
Primeira edição, capa dura com sobrecapa original impressa em cores vibrantes, sem rasgos. As páginas estão limpas, sem escrita e marcações ou bookplates. Contém uma carta datilografada assinada por Dashiell Hammett dedicando o livro.
45.396,86 euros – Drácula, de Bram Stoker. Primeira edição do Editorial Constable, Londres, 1897
Capa dura. Condição: muito bom. Primeira edição e impressão sem o anúncio do trabalho anterior de Stoker, The Shoulder of Shasta, na última folha. Desgastado nos cantos e nas pontas, com dobradiças internas reforçadas, pequena marca de esferográfica na página 54. O licitante observa que a primeira impressão tem a última página em branco em um discurso não sem humor que culmina: “Os compradores inteligentes devem examinar esta seção com o mesmo cuidado que os porcos-espinhos se exercitem quando acasalam”.
43.580,98 euros – Análise de Segurança, de Benjamin Graham e David L. Dodd. Whittlesey House / McGraw Hill, Nova York, 1934.
Primeira edição, capa dura, autografada. Considerada a Bíblia do Investidor, ela é consultada hoje com a mesma frequência com que apareceu pela primeira vez. Este livro foi escrito logo após a desastrosa quebra do mercado de ações em 1929, e ainda mantém o mesmo apelo para um pensamento disciplinado de investimento.
35 mil euros – Moisés e o monoteísmo
Manuscrito assinado e datado de “Domingo, 10 de março de 1971 em Nova York.” Vinte páginas de papel branco em caderno (209 x 130 mm), escrito por Salvador Dalí em maiúsculas com caneta e tinta preta. É o prólogo da edição por ele ilustrada da obra homônima de Sigmund Freud (1974), onde conta traumas que o levaram à religião. A grafia fonética do francês contém erros de impressão.
*Por Omar Genovese.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.
*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.