"desumano"

“Um passo para trás”: os últimos momentos do detento executado com gás nitrogênio

O caso levantou dúvidas e queixas da população e de especialistas dos direitos humanos, que veem o método como uma forma de tortura

O detento Kenneth Smith, de 58 anos, condenado à morte por um assassinato de aluguel em 1988, foi executado na noite da última quinta-feira (25), no estado do Alabama, Estados Unidos. A morte do condenado marcou a primeira execução por inalação de gás nitrogênio na história do país.
Kenneth Smith e a cela de execução – Créditos: Departamento de correções do Alabama e do Arkansas

O detento Kenneth Smith, de 58 anos, condenado à morte por um assassinato de aluguel em 1988, foi executado na noite da última quinta-feira (25), no estado do Alabama, Estados Unidos. A morte do condenado marcou a primeira execução por inalação de gás nitrogênio na história do país.

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O caso levantou dúvidas e queixas da população e de especialistas dos direitos humanos, que veem o método como uma forma de tortura. Mesmo após recursos da defesa de Smith, a Suprema Corte dos EUA exigiu que o procedimento seguisse.

Na sala de execução, Kenneth, diante de familiares cinco jornalistas, afirmou que “esta noite, o Alabama fez com que a humanidade desse um passo para trás”. Também dedicou palavras aos parentes ali presentes: “Estou saindo com amor, paz e luz, obrigado por me apoiar, amo todos vocês.”

A execução

A execução começou às 19h53 (22h53, em Brasília), quando os agentes colocaram uma máscara no detento, o que faria com que ele inalasse nitrogênio puro, assim, o privando de oxigênio. Após ligarem a máquina, testemunhas relataram que Smith começou a retorcer-se, subindo na maca diversas vezes.

Apesar da afirmativa de que Kenneth ficaria consciente por menos de um minuto e morreria logo depois, o procedimento levou cerca de 22 minutos. Segundo os jornalistas, o prisioneiro esteve consciente por vários minutos.

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Para o comissário do Departamento de Correções do Alabama, John Hamm, Smith parecia estar prendendo a respiração “o máximo que pôde”, mas “nada fora do comum do que esperávamos”.

Kenneth Smith foi declarado morto às 20h25 do horário local. Um dos presentes, o reverendo Jeff Hood, afirmou que “um mal inacreditável foi desencadeado esta noite”.

O outro lado

Enquanto o mundo repercutia a notícia, majoritariamente solicitando a revisão do método de execução, os familiares da vítima de Kenneth Smith, por outro lado, se incomodavam e procuravam a justiça. “Não aconteceu nada aqui hoje que possa trazer a mamãe de volta. Nada”, afirmou Mike Sennett, filho de Elizabeth, morta em 1988. Em sua defesa, Smith afirmou que presenciou, porém não participou do ataque.

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“Estamos felizes por este dia ter acabado. Todas as três pessoas envolvidas neste caso anos atrás, nós as perdoamos”, acrescentou. Conforme Mike, “Kenneth Smith tomou algumas decisões erradas há 35 anos e pagou sua dívida esta noite”.

Por que “desumano”?

Profissionais alertam que a hipoxia por nitrogênio pode causar desde convulsões violentas até a sobrevivência em estado vegetativo. Semelhantemente, caso haja vazamento, as testemunhas também submetem-se aos perigos do gás.

“Estamos preocupados que a execução de Smith nestas circunstâncias possa violar a proibição de tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, bem como o seu direito (de pessoa condenada) a soluções eficazes”, afirmou a porta-voz do Escritório dos Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani, ainda afirmando que evidências periciais apontam que o nitrogênio pode causar “dor e sofrimento” à vítima.

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O órgão mundial exigiu que o estado do Alabama suspendesse a execução de Smith, uma vez que o ato poderia configurar uma forma de tortura.

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