Em menos de uma semana de confinamento, o Big Brother Brasil (BBB) já se tornou palco de um relacionamento abusivo no casal Bruna Griphao e Gabriel Tavares. O posicionamento de Gabriel em relação a Bruna causou estranhamento no público e, mais tarde, alguns participantes chegaram a falar sobre comportamentos problemáticos no casal.
A situação culminou na intervenção na produção do programa, especialmente depois do que a equipe do brother chamou de “brincadeira”, mas que ultrapassa todos os limites do humor, quando disse que a sister levaria “umas cotoveladas na boca”. O apresentador Tadeu Schmidt alertou o casal, especialmente Gabriel, sobre suas atitudes em relação a atriz.
“Eu tô aqui pra fazer um alerta antes que seja tarde”, disse o apresentador. “Gabriel, em uma relação afetiva, certas coisas não podem ser ditas nem de brincadeira. Nem de brincadeira. Esse era o recado que eu queria deixar para vocês”, concluiu.
A psicóloga Meiry Kamia deu algumas dicas para identificar os sinais de um relacionamento abusivo. Veja abaixo.
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RELACIONAMENTO ABUSIVO
A Perfil Brasil conversou com o Professor Doutor do Mackenzie, Marcelo Neumann, sobre a dinâmica e os impactos de um relacionamento abusivo para a vítima. O especialista explicou que sempre existe uma “assimetria de poder” neste tipo de relação e, em se tratando de relacionamentos amorosos, do homem acima da mulher.
“Ele acha que pode fazer mais com o outro, porque talvez ele tenha alguns preconceitos dentro de si que não foram efetivamente trabalhados”, explica. “Ele coloca esse outro em uma posição de subalternidade”.
O Dr. Neumann traz um alerta importante: apesar da concepção comum de que os relacionamentos abusivos envolvem a violência física, muitas vezes a relação pode ser nociva antes mesmo de chegar a este extremo. “Ele começa normalmente pela violência psicológica, colocar o outro em uma situação humilhante”. Isso não significa que as agressões psicológicas sejam menos prejudiciais. “O outro [vítima] muitas vezes não dá limites, não chama a atenção, naturalizando essa relação, mas sofrendo psicologicamente.”
Mas que leva uma pessoa a agir desta maneira? O Dr. explica que vários fatores estão envolvidos, inclusive as estruturas sociais, históricas, culturais e também emocionais. “Vários tipos de condições sociais implicam que este outro [abusador] não tem empatia com o diferente.” Ele ressalta que as estruturas problemáticas e a convivência com a agressividade também podem influenciar no comportamento abusivo.
“Alguns mecanismos psicológicos deste indivíduo, uma vivência em casa, de muita agressão. Ele absorve esses modelos e reproduz na vida adulta. Quando pensamos nesse autor de violência, na verdade ele tem muito medo, então usa uma armadura para ferir o outro. Ele não sente a dor deste outro, acaba projetando a vida dele, os preconceitos, no outro.”
Um ponto que gerou diversos questionamentos foi o fato de que Bruna, apesar de carregar o estereótipo da mulher forte, não enxergou a própria situação e muito menos conseguiu deixar o relacionamento com facilidade. “A vítima é uma vítima, ela não escolhe”, ressalta o Dr. Neumann.
“[No relacionamento abusivo] você tem a dependência financeira, emocional, dependência afetiva, questões de autoestima. […] É muito comum ver nas mulheres vítimas de violência elas tolerarem por muito tempo até que enxerguem que isso é ruim, mas isso pode acontecer, por exemplo, depois de mais de 20 anos.”
As consequências vão muito além dos problemas financeiros ou físicos. “Ela [vítima] pode ter insônia, terror noturno, são sintomas que afetam o sono. […] Muitas usam e abusam do álcool e drogas. A alimentação pode ter alterações, comendo compulsivamente ou até desenvolvendo bulimia e anorexia, ter reações de agressividade” As relações afetivas, familiares e de amizade também podem ser prejudicadas. “É uma relação muito ciumenta, de insegurança. Ela acaba se afastando das pessoas, pode passar a não ter relação com a família”, explica o especialista.
No caso de Bruna, o Brasil, os brothers e sisters e a produção do programa estão de olho em todos os movimentos da casa. Na vida real, fora do reality, as coisas podem facilmente ultrapassar os limites de um relacionamento saudável sem que ninguém possa interferir. No entanto, o que fazer quando você passa a notar sinais de que alguém próximo a você está em um relacionamento abusivo?
“Isso depende da vítima. De qualquer forma, o governo federal oferece mecanismos”, explica o psicólogo. Para buscar ajuda, existe o Disque 100, onde é possível fazer uma denúncia anônima. Entre crianças e adolescentes sofrendo abusos dentro ou fora de casa, é possível acionar o conselho tutelar da região. Em relação às mulheres, é necessário buscar a Defensoria Pública. Em casos de violência física ou sexual, é importante buscar uma delegacia o quanto antes para os procedimentos de exame de corpo de delito que auxilia na elaboração de documentos e de denúncia formal para que o agressor seja responsabilizado o mais rápido possível.
O abuso psicológico, físico, financeiro e outros tipos de violência são enquadrados como crime previsto pela Lei Maria da Penha (Lei Federal nº 11.340, de 7 de agosto de 2006).
BRUNA E GABRIEL
O pai da sister, Kakau Orphao, concedeu entrevista à Revista Máxima, onde disse que é necessário “estender a mão” a essas pessoas. “O meu alerta é que procurem ajuda, mesmo que às vezes seja muito difícil, pelo fato da vítima não enxergar”, declarou.
“Essa mensagem que todos nós recebemos ontem é também para as pessoas próximas que, muitas das vezes, estão vendo e não conseguem entender. Ofereçam ajuda!”, disse ele.
Kakau também comentou sobre como a situação é um exemplo da vida real. “Serve de exemplo para mostrar que qualquer mulher está suscetível a passar por essa situação! Isso só deixa claro que todos temos que ficar atentos às armadilhas da mente. Todos!”
Ele também comentou sobre o posicionamento do brother como parceiro de Bruna. “A Bruna está precisando de ajuda! Gabriel também precisa de ajuda! Não esqueçam disso.”
Depois do alerta de Tadeu, o casal decidiu se separar dentro do reality.
*Este texto possui trechos de entrevista concedida à revista Máxima.
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