O risco da visão elitista

*Por Bjorn Lomborg – Presidente do Copenhagen Consensus Center e Visiting Fellow da Hoover Institution da Stanford University.

O risco da visão elitista
Seria um exagero dizer que, enquanto as ameaças reais aumentavam, o mundo rico estava consertando painéis solares e banindo canudos de plástico (Crédito: Sean Gallup/ Getty Images)

Na última década, a obsessão da elite global com as mudanças climáticas minimizou outros problemas relevantes enfrentados pelo planeta, como a invasão da Ucrânia demonstrou dramaticamente. Os líderes da Europa Ocidental deveriam ter passado a última década diversificando as fontes de energia e expandindo os recursos de gás de xisto, em vez de fechar usinas nucleares e depender da Rússia. Mas a guerra iminente não é a única coisa que eles ignoraram.

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A tarefa mais importante que a humanidade enfrenta hoje continua sendo tirar a maior parte do mundo da pobreza absoluta. Isso só pode acontecer fornecendo aos países pobres fontes de energia amplas e confiáveis. Foi assim que o mundo rico se tornou próspero e foi assim que a China tirou quase um bilhão de pessoas da pobreza. No entanto, enquanto os países ricos dependem predominantemente de combustíveis fósseis, a elite trabalhou para tornar essas fontes de energia mais caras e menos disponíveis para os pobres.

Inflação, escassez de oferta e recessão

Inflação, escassez de oferta e possivelmente recessão pairam sobre a economia mundial. As autocracias estão se reafirmando, enquanto os mais vulneráveis ​​já sofrem com crises alimentares. Tuberculose, malária e desnutrição, cada uma delas tratada com eficácia no mundo rico, continuam a ceifar milhões de vidas todos os anos nos países pobres.

No entanto, os principais doadores e organizações de desenvolvimento têm se concentrado cada vez mais em soluções climáticas. Um mês após a invasão da Ucrânia, o chefe das Nações Unidas alertou para a “catástrofe climática” e a “destruição mutuamente assegurada” que o “vício” em combustíveis fósseis poderia causar.

Seria um exagero dizer que, enquanto as ameaças reais aumentavam, o mundo rico estava consertando painéis solares e banindo canudos de plástico. Mas só um pouco de exagero.

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Então, como as elites conseguiram fazer as coisas tão mal? Afinal, os danos climáticos globais como porcentagem do PIB continuam a diminuir e as mortes por desastres climáticos caíram 99% em um século. Além disso, as melhores estimativas de danos revelam que todo o custo global da mudança climática será inferior a 4% do PIB até o final do século.

Lembre-se que, segundo estimativas da própria ONU, a pessoa média em 2100 será 450% mais rica do que hoje. O aquecimento global significa que será “apenas” 434% mais rico. Isso é um problema, mas, ao contrário do drama, está longe de ser catastrófico.

O mundo já gasta mais de meio trilhão de dólares por ano em política climática, enquanto os gastos governamentais no mundo rico em inovação em áreas como saúde, defesa, agricultura e ciência vêm diminuindo como porcentagem do PIB nas últimas décadas. Este investimento é a base do nosso crescimento futuro. Juntamente com o desempenho educacional estagnado ou em declínio, a renda do mundo rico quase estagnou neste século. Compare a China, onde os gastos com inovação aumentaram 50%, a educação está melhorando rapidamente e a renda média aumentou cinco vezes desde 2000.

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O mundo tem muitos desafios, não apenas aqueles que recebem mais atenção da mídia. O clima deve ser abordado de forma mais eficaz por meio do financiamento de P&D em fontes de energia verde para que, eventualmente, superem os combustíveis fósseis. Temos que lidar com o expansionismo autoritário na Ucrânia e em outros lugares. E para garantir a prosperidade a longo prazo, o mundo precisa de mais energia mais barata, melhor educação e mais inovação. Precisamos recuperar nossa perspectiva para superar a hipérbole elitista sobre as mudanças climáticas.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Perfil Brasil.

*Texto publicado originalmente no site Perfil Argentina.

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